terça-feira, 3 de agosto de 2010

No topo da Pedra da Gávea

Sarcófago egípcio, monumento fenício, passagem para um mundo subterrâneo, entrada para a terra dos monstros com Didi, Mussum, Dedé e Zacarias. As lendas em torno dessa formação rochosa no litoral do Rio de Janeiro não são poucas, algumas são engraçadas mas outras chegam a ter base científica e são convincentes (deem uma olhada no Google, é interessante). A Pedra da Gávea recebeu esse nome pela sua parte superior que tem a forma de uma gávea, muito comum nas antigas caravelas.

Bom, vamos aos fatos. A Pedra da Gávea é um monólito de gnaisse com topo de granito (acho que essa informação só foi relevante pra Marina) subindo 842 metros acima do nível do mar, o maior bloco de pedra à beira mar do planeta. É um dos pontos extremos do parque da Floresta da Tijuca e um dos mirantes mais espetaculares, situado entre os bairros de São Conrado, na Zona Sul e Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. No entanto, quem que chegar ao topo desse monumento tem que fazer por merecer. Não tem bondinho, não tem trem, não tem estrada, não tem heliporto. Apenas uma trilha muito íngrime cercada pela imponente e super úmida floresta atlântica com trechos de lama, pedras para escalada, córregos, argila, muito lodo, muita lama, muita, muita lama na subida. Resumindo: a trilha mais difícil que já fiz na minha vida.

O dia estava ensolarado, típica manhã carioca, mas a floresta possui um estado meteorológico que a uma certa altura diverge totalmente do resto da cidade. Começamos a caminhada às 9h30 e chegamos ao topo perto de 13h. Na maior parte do caminho parecia que estava anoitecendo porque era tanta neblina e eram tantas nuvens que chegava a chover e não conseguíamos ver quem estava a dez passos na nossa frente.

À medida em que subíamos a paisagem tirava o fôlego, nas brechas que conseguíamos ver entre as nuvens. Quando encarei de frente a "cara" da pedra foi emocionante, o lugar realmente é misterioso e imponente. Um pouco mais à frente encontramos a trilha mais difícil, a Carrasqueira. Creio que o nome venha de carrasco mesmo porque é uma parede de pedras difíceis de se segurar, a qual por sorte subimos com a ajuda de uns escaladores profissionais que estavam no caminho e nos cederam uma corda.







Mesmo me sentindo muito realizada, confesso que foi meio frustante chegar ao topo da pedra e só ver neblina. Poxa, cadê a paisagem? Ainda bem que minutos mais tarde as nuvens nos permitiriam ver São Conrado, com Leblon e Ipanema ao fundo, o Oceano Atlântico e suas ilhas, a Barra da Tijuca com o Recreio ao fundo, e a extensão da Floresta da Tijuca. Essa era minha visão em 360 graus.











Depois de passar um bom tempo apreciando o visual e fazendo um piquenique, partimos. A descida foi igualmente difícil, diga-se de passagem, com direito a tombos de bunda na lama escorregadia. Descer a Carrasqueira é um desafio. Encontramos uns gringos subindo, um deles quis ir pelo caminho mais difícil, ignorando nossos avisos e empacou. Um amigo nosso falou: "Ô camarada, ajuda o gringo ae!". O estrangeiro semialbino ouviu nossa conversa e retrucou: "I'm not a gringo, I'm a Russian!" (Eu não sou um gringo, eu sou russo!). Tá bom, gringo, você é russo.

Chegamos a solo plano às 16h, com muita fome e com a roupa boa de jogar fora, que sabão multiação nenhum podia dar jeito. Não sei porque eu era de longe a mais suja e machucada, acho que preciso praticar mais. Pai, mãe, se vocês acharam perigoso eu subir uma pedra de 842m de altura, lembrem-se que vocês estão mais radicais que eu: Brasília está a mais de 1000m acima do nível do mar.

E prometo que subo de novo com qualquer um de vocês que vier me visitar!

PS: O blog não me deixa por mais fotos, depois mostro pra vocês as fotos da Carrasqueira (não, não é aquela primeira foto da subidinha)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O Sol se esconde no Rio

O Rio de Janeiro é regido pelo Sol. Não reconheço essa cidade em dias de chuva, parece que todo mundo fica meio sentido e desanimado. Quando a estrela que está no centro da nossa galáxia começa a dar espaço para a Lua não tem como não parar pra assistir, é um espetáculo à parte.

A geografia daqui fornece alguns pontos estratégicos nos quais o por do sol fica ainda mais bonito. Um deles, e provavelmente o mais clássico, é o Arpoador, aquela pontinha da praia de Ipanema que se aproxima de Copacabana. Enquanto o Sol vai embora podemos curtir as ondas batendo nas rochas e os surfistas aproveitando as últimas sessões do dia. Das pedras podemos ver os morros Dois Irmãos e a Pedra da Gávea ao fundo. Melhor ainda é apreciar a paisagem com pessoas tão especiais quanto os corpos celestes.











Para quem passou o dia na praia, o por do sol dá um clima de "ah... já?", mas acaba se consolando com o novo colorido do céu. Esse foi o meu caso nesse domingo na praia do Pepê na Barra da Tijuca.











Lindo, né? É uma pena que as pessoas não saibam cuidar desses lugares: as pedras do Arpoador estão pichadas e as areias da Barra abraçam toda a sujeira de um domingão de praia lotada onde quase ninguém sabe a utilidade de uma lixeira.
Última consideração: o céu de Brasília ainda é o mais encantador e único visto nesses 21 anos de muitas viagens pelo entardecer do Brasil.
Beijos em todos.






























sábado, 10 de julho de 2010

Glória - vida tranquila e saudável na metrópole carioca

Oi gente,
Resolvi contar minhas peripécias e perumbulâncias pelo Rio periodicamente pelo blog. O episódio de hoje é: Glória.

A Glória é um bairro de classe média e média-alta localizado na extremidade norte da Praia do Flamengo. É considerado o primeiro bairro da Zona Sul carioca, por fazer limite com o Centro e a Lapa. O Bairro da Glória perdeu boa parte do seu acesso ao mar com a construção do Aterro do Flamengo.
Até os anos 1930 era considerado o Saint-Germain-des-Prés (provavelmente isso quer dizer que o lugar era pra poucos e bons) carioca, pois desde fins de 1880 abrigava hotéis que serviam de residência a deputados, senadores, em exercício no Rio de janeiro, então capital federal. Boa parte de seus modelos arquitetônicos e urbanismo inspiraram-se em Paris, basta considerar a Praça Paris, um verdadeiro jardim francês. Foi nesse bairro que Machado de Assis entre outros artistas, músicos e personalidades criaram o famoso Clube Beethoven, um seleto grupo que se reunia para ouvir as obras compositor alemão.
Entre os anos 30 e 60 do século XX, os casarões em estilo eclético e boa parte das vilas operárias vão dando lugar a prédios, que acabaram dando ao bairro o aspecto que tem hoje. Com uma área territorial pequena, o bairro possui o 16º melhor índice de IDH da cidade (Wikipedia).

Bom, essa é a versão da Internet. A minha é a seguinte: há alguns meses peguei um engarrafamento apocalíptico e tive que descer do ônibus pra voltar de metrô. Eu nem sabia onde estava, era diferente do resto da cidade mas ao mesmo tempo a cara do Rio: o bairro da Glória. Tinha que voltar lá, o lugar é uma fofura. Hoje de manhã peguei o metrô e fui em busca de uma feirinha orgânica bem famosa no bairro. O início de sábado na Glória estava simplesmente irresistível, ligeiramente nublado, quentinho, com a brisa vinda do mar, aquelas árvores seculares da mata atlântica que resistiram ao lado de casas em estilo colonial contrastando com prédios típicos dos anos 1960 e 1970. As ruas inspiram confiança parece que estava em uma cidade pequena e charmosa, longe do furor do Centro e Copacabana.

A menos de 5 min do metrô lá estava ela, um oásis de vida saudável, a Feira Orgânica e Cultural da Glória. Essa feira abriga uma infinidade de opções para quem busca qualidade de vida e consumo consciente: verduras, frutas, castanhas, sucos feitos na hora (por uma senhora que me lembrou a tia Anastácia do Sítio do Pica-pau amarelo), leites e derivados vindo de fazendinhas que tratam bem os seus bichos, material de vida alternativa, campanhas de ONGs ambientais, purificadores de água, e excepcionalmente hoje, uma festinha julina com produtos orgânicos e sem derivados de animais. A atmosfera tranquila, feliz e pacífica era quase palpável e podia ser vista através das crianças brincando pela praça, dos cachorros e gatos que me perseguiam abanando o rabo e pedindo carinho, dos velhinhos sentados nos bancos conversando, dos jovens debatendo política, dos consumidores e agricultures supersatisfeitos. Tudo isso me fez me sentir muito feliz pela escolha do meu estilo de vida.





Fui às compras. Muitas pessoas reclamam e atestam que não compram orgânicos porque são muito caros. Para fazer o teste levei apenas R$ 20 e fiz uma pesquisa de preço. O suco verde orgânico que eu tomei de 300 ml custava R$ 5, incrivelmente delicioso e nutritivo feito na hora por uma senhora aparentemente pobre, linda e cheia de saúde. Um maço muito generoso de agrião e outro de rúcula custavam R$ 1,80 cada. Um pacote de cenouras bem robustas e viçosas valia R$ 3,50. Um pacote de carambolas me custou apenas R$ 2. Ou seja, minhas compras que durariam aí em casa em Brasília, para nós quatro comedores vorazes de verduras, por 1 semana ou mais foi R$ 9,10. É caro? Com certeza é bem menos do que uma saída a noite, uma cerveja e alguma coisa pra beliscar . Tudo bem se você não puder encher a sua casa de orgânicos, mas algumas substituições podem ser valiosas. O brasileiro ingere 4 litros em média de agrotóxicos por ano. Cabe a você definir suas prioridades e organizar suas finanças. Curtam as fotos, família (atentem para uma foto especial que tem um vovô jogando bola com seu netinho num campinho de areia, na maior disposição).









Sempre levo vocês comigo,

Beijos

Laís